Santuário

No alto do Monte que emoldura Viana do Castelo ergue-se o Santuário do Sagrado Coração de Jesus. Visível a quilómetros de distância, como que a dar as boas vindas a quem entra na cidade, o templo coroa a Princesa do Lima. Quem escolhe subir o monte recebe em troca um panorama arrebatador, onde o bucólico e verdejante vale se funde com a modernidade e o urbano da cidade, tudo acompanhado pelo vagar do rio Lima que desagua no Atlântico, onde quase conseguimos ainda ver as Caravelas que um dia partiram para os Descobrimentos – tudo num só local, tudo numa só vista.

O sublime da natureza alia-se ao engenho humano, com o Santuário a glorificar o Sagrado Coração de Jesus e Santa Luzia, advogada da vista e que mereceu o agradecimento do Capitão de Cavalaria Luís de Andrade e Sousa, depois de ter sido acometido de uma grave oftalmia. Na extinta capela de Santa Luzia, Andrade e Sousa pede à Santa que o ajude e, depois de recuperado, agradece-lhe, instituindo em Viana do Castelo a Confraria de Santa Luzia.

Para quem visita a cidade ou para os seus habitantes, subir o monte de Santa Luzia é sinal de uma experiência diferente e que deixará uma doce recordação da cidade. A somar à imponente obra eclesiástica, pode ainda passear pelo recatado jardim das Tílias, fazer um pick-nick no parque das merendas, e ainda subir ao zimbório, onde desfrutará de uma vista 360º.

Nota

Devoção e agradecimento

Comumente chamado de Igreja de Santa Luzia, o padroeiro do monumento é, contudo, o Sagrado Coração de Jesus. Historicamente, os vianenses já lhe eram devotos desde 1743. No entanto, é em 1918, durante a pandemia pneumónica, que a cidade se consagra ao Sagrado Coração de Jesus. Aterrorizados com a violência do surto, e chorosos com a perda de tantos que tinham perecido, os vianenses prometem subir anualmente em peregrinação ao monte de Santa Luzia, se mais nenhuma vida fosse tirada. Cessada a mortandade, os habitantes cumprem a sua promessa, e começam, em 1920, a rumar monte acima, anualmente. O templo, esse, já estava em construção desde 1904. Até aos dias de hoje se cumpre a promessa, com uma peregrinação desde a cidade até ao cimo do monte, no domingo mais próximo da festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus.

As peregrinações já se tinham iniciado no século anterior, ainda que fossem menos organizadas e sem calendário. Em 1984, quando os devotos subiam ao monte por altura das Festas d’Agonia, o Padre Dias Silvares sugeriu a criação de uma estátua ao Sagrado Coração de Jesus, no alto do monte, para que velasse e abençoasse a cidade, o Minho, e toda a nação. O escultor Aleixo Queiroz Ribeiro foi o eleito para executar a obra.

 

Nota

Histórica

Depois de executada a monumental e artística coluna que haveria de servir de suporte à estátua, verificou-se que a mesma não conseguiria suportar a sua posição fortemente inclinada para frente. Então, a estátua foi colocada num pedestal em frente à Capela de Santa Luzia, que só seria demolida em 1926. Aproveitando a majestosa coluna, Miguel Ventura Terra, um dos maiores arquitetos do seu tempo, idealizou uma coluna igual para as implantar diante do templo a construir e servir de suporte a dois anjos. Entre essas duas colunas, Ventura Terra riscou o projeto de um magnífico templo, cuja beleza e magnificência é apenas igualável pela paisagem onde este se insere.

As obras começaram em 1904, desenvolvendo-se animadamente até à Proclamação da República. A partir daqui, o processo esmoreceu, resultado do conturbado contexto político e social. A I Guerra Mundial acabou por abrandar ainda mais o processo. Em 1925 o arquiteto Miguel Nogueira, aprendiz de Ventura Terra, assume as rédias da obra, herdando o projeto do seu mestre aquando da sua morte. Apenas um ano depois concluem-se as obras da capela-mor, e o Arcebispo e Senhor de Braga e Primaz das Espanhas têm a honra de a abrir ao público. As obras do exterior do templo concluíram-se no final do ano de 1943, e as do interior em 1959. O resultado é uma imponente mole granítica cinzelada e executada pelos mestres canteiros da região dirigidos por Emídio Pereira Lima.

Nota

Arquitetónica

Arquitetonicamente, o edifício apresenta uma planta centrada em cruz grega, de raiz bizantina. À mesma matriz vai buscar a enorme cúpula que coroa o edifício, bem como as pequenas cúpulas que encabeçam as quatro torres, estas já inspiradas no estilo românico, assim como a decoração que serpenteia pela fachada do edifício. De estilo gótico são as enormes rosáceas, as maiores da Península Ibérica, emoldurando os belos vitrais que inundam com luz e cor o interior da igreja.

Lá dentro, dois anjos, da autoria de Leopoldo de Almeida, oferecem os escudos de Portugal e de Viana do Castelo ao Sagrado Coração de Jesus, uma réplica da estátua de bronze da entrada, esculpida em mármore de Vila Viçosa por Martinho de Brito.

A atenção popular e a devoção dos vianenses é dirigida à imagem do Sagrado Coração de Jesus, provinda do convento dos Crúzios, e à imagem de Santa Luzia, que migrou da capela que antecedeu o templo, tal como a imagem da Senhora da Abadia. Para completar, também Nossa Senhora de Fátima é contemplada no templo, com uma estátua à sua imagem, para todos os crentes que lhe queiram prestar devoção.

Emídio Lima é o escultor responsável pelos imponentes altares em mármore e granito, tanto o altar-mor como os laterais, dedicados a Santa Luzia e à Senhora da Abadia. Também os púlpitos de linhas ondulares, com desenho de Miguel Nogueira, são obra deste escultor. Já as três rosáceas que ornamentam a igreja fizeram todo o seu caminho desde Lisboa, das mãos da oficina Ricardo Leone. Os frescos que rodeiam a abside da capela-mor e a cúpula são da autoria de Manuel Pereira da Silva, natural de Avintes, e representam passagens da via-sacra. Finalmente, o sacrário de prata foi cinzelado pelo mestre ourives Filinto Elísio de Almeida, no Porto.

O Santuário é assim um símbolo não só de união religiosa, com pessoas de vários cantos do país e do mundo a quererem visitá-lo e a prestar a sua homenagem, quer apenas por devoção ou por pagamento de promessas, mas é também uma união singular a nível arquitetónico, com pessoas de vários pontos do país a contribuírem para a sua construção e a elevarem a referência em que se tornou, ao longo dos anos, para habitantes e turistas, para portugueses e estrangeiros, para crentes e não crentes. Ninguém fica indiferente à simbiose perfeita do Santuário no seu monte.